Exposição Onibaje

Onibaje trata-se de uma nova narrativa em minha trajetória, onde falo do lugar de onde vim, das minhas experiências e vivências enquanto homem negro, aspectos que considero mais sensíveis, afetivos e da minha relação étnico-racial com o meu corpo e com os olhares externos. Recentemente, ao me despir das amarras da colonização, comecei a vincular minha arte junto a elementos e símbolos da cultura afro-brasileira e indígena. Foi assim que Onibaje ganhou forma. Neste processo foi importante para mim tornar palpável através de imagens minhas memórias afetivas com o corpo negro e com a negritude. Desde cedo fomos ensinados a negar nossa corporeidade, alimentados pelo auto-ódio de uma sociedade estruturalmente racista. Sensualidade e sexualidade ganham um outro olhar, onde a natureza íntima e a ancestralidade se tornam evidentes. Procuro fazer um resgate histórico e sensorial, não apenas enquanto homem negro, mas também enquanto um artista e intelectual, diante a um projeto de contra colonização de nossos corpos, subvertendo a perspectiva racialista, através de um olhar e uma perspectiva afrocêntrica. Ao reinterpretar a nudez do corpo negro, não estou a tratar de um negro-tema, como nos aponta o sociólogo Guerreiro Ramos, de corpos objetificados e desumanizados, mas sim recuperar o negro-vida, trazendo um movimento plural e multiforme. É meu desejo que o espectador se veja e se sinta representado no trabalho. Trata-se de múltiplas narrativas, que transformam minhas experiências pessoais em experiências coletivas. A fotografia é a base para construção de meus desenhos, monotipias, desenhos de observação e transposições de imagens. A tinta nanquim, preto e em várias cores, giz pastel, lápis H dentre outros são aplicadas sobre papéis variados.